And it feels like home.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Apego.

De fato, eu ainda não aprendi a lidar.

Quando descobrimos o prazer em fingir ser alguém, em se esforçar para tornar nosso trabalho cada vez mais verdadeiro, limpo, bem feito.

E quanto mais diferente da gente, melhor, maior o desafio, mais nos sentimos 'atuando'.

Quando chega-se lá, é uma delícia, a sensação de gozar do que construímos com nosso corpo, pensamentos. De se tornar íntimo daquele personagem e se misturar nele até que você suma e consiga fazer com ele o que quiser. É muitas vezes melhor que um orgasmo.

Meus personagens foram meus melhores amigos em diversas fases, cada um a seu modo.

Mas em algum momento isso acaba, e em cada fim de trabalho, dá um aperto que é indescritível. É como um pedaço indo embora, alguem que você amou e conviveu durante tanto tempo, e de uma maneira tão intima, tão sua. Tão dentro.

É estranho, pois na maioria das vezes que perguntam, digo que gostaria de fazer muitos personagens, de todos os tipos, os mais variados possíveis, complexos, desafiadores, e muitos deles, durante a vida toda. Então o fim de um ciclo seria o começo de outro pra mim, o que deveria ser motivo de muita comemoração.

E é, claro! Mas quando me deparo com aquele sentimento de despedida, dos amigos que se vão, do figurino, dos objetos, da vida que eu dei pra aquela história, bate uma dor e uma vontade absurda de congelar ali, aproveitar mais daquele trabalho já feito.

Mas ai o elenco se reúne, ri dos bons e maus momentos, cervejas, cigarros, abraços, algumas lágrimas e pronto. Estamos prontos pra começar de novo, com mais histórias pra contar, experiências pra dividir e amigos, alguns sem dúvida, pra vida toda.

A saudade... ela continua. E eventualmente uma lágrima ou outra surge pra ilustrar isso.

Mas somos assim, feitos de momentos.

Alegrias e tristezas. Vidas e despedidas.

Saudades.

E grandes amigos.